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4 de novembro de 2012

Na companhia do mar solitário


16:33 h
Fim de tarde de domingo
Vim ver o mar
O verde mar
Precisava de alguém para conversar
E o mar sempre parece disposto para nos ouvir falar, pensar...
O mar, sempre pronto para me receber
À minha esquerda, dezenas de pessoas desfrutam os privilégios desse lugar
Famílias, uma dupla de amigas, crianças e idosos
Do meu lado direito, outros compartilham o fim de uma tarde de domingo















Nessa brisa, nessa imensidão de mar esverdeado com espumas brancas... todos estão iluminados pelo sol que ainda não se foi, mantendo a cor do céu azul
A brisa que sopra me dá certo alívio
Agora estou sentado na areia da praia sobre minhas sandálias havainas
Pés descalços, mergulhados na areia...
Sinto o vento soprar e meu ânimo tomar fôlego
“Olá mar solitário... sua solidão sempre atrairá outros supostos solitários”















Na solidão do mar
Encontro encontros, encantos...
Nada é igual
Sobre a areia da praia, milhares e milhares de pegadas, são tantas que nem dá pra contar
Sobre a face das águas o vento inventa, desenha simultaneamente inúmeras digitais
Sopra vento
Passa tempo
Silêncio sereno
Mistura de cores
Abraço amores
Sinto saudades
E as minhas lembranças se tornaram banais
Exigências que a vida faz, vêm à existência, na tentativa de não deixar de existir já mais















Casais amigos
Olhares tranquilos
A leveza de quem tem abrigo
A tranquilidade de quem caminha só
Sobre essa areia, sou apenas mais um grão
Os grãos unidos se tornam milhares, infinitos
Uma gaivota rasga os céus
Voando contra e a favor do vento
Faz seu caminho no invisível
Um sinal de liberdade
Até na solidão somos acompanhados
De tempos em tempos, nossa rotina tende a mudar e nem adianta cantar o rebelde refrão de décadas atrás; pouco a pouco, todo mundo sabe que no final a regra de ouro é se reinventar...
Para mim é bem mais que uma simples adaptação
Apenas nos é entregue a função de viver



















Eu daqui, sou apenas um, mas nunca o mesmo para sempre
Agora mesmo me faço outro, me faço novo, de novo...
São as descontinuidades descontinuadas que insistem em continuar
Entre lembranças fragmentadas e desencontros de sentimentos
À todos nosso respeito e afeto
Ao amor dos iguais e ao amor dos nem tão diferentes assim
Nosso sim
Ao amor
Ao abraço
Ao abrigo
E à solidão
Obrigado mar, por ser tão atencioso e generoso conosco, na solidão ou não...


Obs: Passando pela areia do Cabo Branco, uma pequenina que deve ter pouco mais de um ano de vida, sentada na areia da praia brinca com os pais, com grãos de areia escorrendo de suas mãos, ela me segue com o olhar, insistentemente olha para mim, sorrindo suavemente acena com uma das mãozinhas, me dando um lindo tchau... Parece me abençoar.


No caminho de volta para casa, o sol mudou a cor do céu que era azul no leste, ao oeste todo o céu estava laranja dourado, era cor de fogo, brilhava o sol, no canto do horizonte, mas sem arder. A noite chegou, mas hoje a noite será de lua cheia.


Solitude - Uma reflexão sobre o tempo que corre e a necessidade de parar.
















Desde menino preservei um costume
No comecinho da manhã, ou no fim da tarde
Ia até a praia
Caminhando pela areia
De Tambaú até o Cabo Branco
Era o momento meu
Estava comigo
Andar por andar
Só para ver o mar
Hoje sei que isso significa um modo de resistência
Este é um tempo que chamo de meu
Acima da lei de produção capitalista
Um tempo meu
Para além das regras que nos movem sobre a terra
Nesse meu instante de caminhada o tempo parece parar
E se ele passa, vai devagar e sem pressa
Caminho na velocidade do meu pensamento
Pausado e sereno, respiro devagar













Meus olhos não miram em pontos fixos
Da praia vejo toda a costa litoral da cidade
Céu azul
Nuvens brancas
Mar esverdeado
Pequenas ondas, serenas como a brisa que vem do sul é o meu caminhar agora
Areia branca, dourada, desenhada e rabiscada pelos fios de água que escorrem entre os grãos... Devagar, delicadamente, rumo ao mar
Piso, ando, vagueio agora por muitos caminhos, mesmo sem sair do lugar
Diante da imensidão do céu e do infinito mar, sou um pequenino observador
E ao caminhar sobre os minúsculos caminhos de água sobre a areia da praia, sou um gigante
Paro com o pensamento, penso, respiro, contemplo tudo e volto a caminhar
Paro no tempo, mesmo diante de tantos afazeres
Preciso parar para viver














Paro caminhando
Paro vendo o mar
Paro tocando o horizonte
Paro ouvindo o silêncio do mundo nas ondas do mar
Para ouvindo o silêncio do tempo, no soprar do vento
Ouço o meu silêncio
Um banho de mar
Um banho de cachoeira e as forças serão restabelecidas
Minha esperança renovada, eu tranquilamente permaneço a caminhar
A caminhada continua
Estou voltando para continuar, para continuar sendo eu.