Vivemos dias onde o sentimento humano tem andado um
tanto desvalorizado.
Partindo da máxima que estamos na existência para
sermos humano, o que vemos é um movimento contrário onde somos diariamente
convocados a abrirmos mão da nossa humanidade.
O ritmo secular dita regras que nos convidam a
darmos passos de super heróis. Tudo, menos humanos: Precisamos
ser fortes, inabaláveis, com super poderes. Precisamos
ser “equilibrados” emocionalmente, uma muralha de autocontrole.
Ao humano hoje fica impedido à queda, chegar ao
limite ou a lágrima. Ao humano hoje, fica impedido de adentrar na reflexão, da
duvida, da avaliação.
Não é humano sentir-se cansado, não é humano sentir-se
abatido. Não é humano esmorecer, tropeçar, sentir angustia ou sofrer por amor. Não
é humano ter raiva, sentir solidão ou querer ficar só.
E mergulhados nessas regras que tentam por fim da
força nos engolir, sofremos tentativas de sabotagens ou de auto-sabotagens. Uma
vez que não é humano ser humano, podemos por isso abrir mão daquilo que se faz
necessário, se não essencial: Vivenciar
os nossos momentos de humanidade.
Momentos que nos são peculiares e contextuais, “restritos”.
Esquivar-se das vivências que são absolutamente
nossas. Fugir dos nossos instantes de reflexão ou de fragilidade é de certo
modo negar a nossa humanidade.
Pois bem, entendo comigo que não é apenas humano
chorar. Não é apenas humano cair ou chegar aos nossos limites e precisarmos de
ajuda. Não é apenas humano sofrer ou dar meia volta. Mas se faz necessário para
o nosso crescimento e desenvolvimento emocional e cognitivo.
Não podemos queimar nossas etapas. Não podemos negar nossa humanidade.
Possivelmente você já tenha ouvido a seguinte frase
numa repartição pública: “Precisamos
humanizar o nosso atendimento.” Aos queridos amigos da
área da Administração ou especificamente dos Recursos Humanos, não pretendo
aqui mergulhar nas questões acadêmicas do termo, no entanto, buscaremos
refletir de maneira breve sobre a questão e extrair algumas lições para nossa
caminhada e existência.
Há uma segunda máxima que está acontecendo e aqui eu
quero destacar: Reconhecimento
da necessidade de se resgatar o sentimento humano, de voltar à humanidade
.
Provavelmente devido ao desenvolvimento tecnológico
e a praticidade que permeia nossa rotina, nos tornamos assim humanos menos
humanos (desumanizados). Se isto não nos aconteceu de fato, no mínimo temos
sido afetados de alguma maneira com essa praticidade, mecanismo e superficialidade.
Ser humano antes de qualquer coisa é sentir.
Sentir é perceber e por fim, perceber seria: “aprender pelos sentidos”.
Mas onde nesse nosso tempo há espaço para o
sentimento? Definitivamente não nos sobra tempo para sentirmos. O que dedicamos
ao sentimento são restos ou migalhas que sobram do nosso tempo.
Atropelamos e calamos nossos sentimentos, nossos
questionamentos, nossas sensações e seguimos a vida como quem caminha com tranqüilidade,
quando na verdade sabemos bem a nossa necessidade.
Temos tempo para tudo. Tempo para cuidar das
atividades profissionais. Tempo de cumprirmos nossos horários e aí incluir a academia.
Tempo de concluirmos mais um artigo cientifico. Tempo para preparamos as aulas
das semanas. Tempo para sacar dinheiro e pagar nossas contas. Tempo para
vivermos a nossa aparente vida social.
Mas nos falta uma coisa: O
nosso tempo, o encontro conosco, o nosso momento.
O momento de perceber ou de resgatar quem somos, onde estamos ou para onde queremos
ir. Falta-nos tempo para digerir nossas emoções, clarear nossos sentimentos,
responder as nossas intimas inquietações.
Somado a isso, não há tempo para os bons amigos,
para o encontro de duas almas que se identificam para a conversa franca, olho
no olho onde podemos ali despir nossa alma e simplesmente ser.
Não temos tido tempo para sentirmos a vida em nós. Não
temos tido tempo para entendermos o nosso próprio tempo. Não temos tido tempo
para o essencial a nossa alma. Não temos tido disposição para vivenciarmos a
nossa simples humanidade.
Mas temos sofrido dia após dia a necessidade de
resgatarmos nossa essência.
Essa é a única maneira de não nos perdermos no tempo
plural e transitorial, das coisas, dos sentimentos, das nossas relações (familiar,
afetiva, fraternal, profissional, social...) e dos nossos momentos.
Vamos
realizar o resgate da nossa humanidade. Vamos abraçar os nossos sentimentos. Vamos
vivenciar a nossa essência.
Ao humano cabe também o sentimento. Por isso não
tenha medo de ser você, não se deixe afligir pela carência, pelo medo, pela
insegurança.
Chore quando sentir vontade.Gargalhe também pela vontade voluntária.
Abrace quem você ama, seja um membro da família, um
amigo de longas datas ou de datas recentes, ou seja, seu companheiro ou
companheira. Simplesmente abrace.
Fale dos seus sentimentos, compartilhe com o outro o
que você sente quem você é. Seja você e permita ao próximo também ser.
Saia em sua companhia empreste a si seus próprios
ouvidos. Sinta você. Seja compreensivo e longânimo com você mesmo. Esteja
consigo.
A verdadeira amizade ou o verdadeiro amor está em
perceber e conhecer a humanidade do outro e mesmo assim continuar amando.
“Na amizade, conhecemos as falhas
do outro, mas julgamos suas virtudes mais do que suficientes para prosseguir
com o afeto. [...] Quando... descobrimos a beleza de nossas imperfeições,
podemos parar de nos esconder e encontrar verdadeiros amigos, cúmplices de
nosso caminho rumo a vitórias e conquistas.”
(SHINYASHIKI, p.71, 1997)