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2 de março de 2015

Abraço de despedida

Ei, deixe a poesia brotar;
Não, não precisa ter medo;
Recomece sempre que desejar;
Cada parágrafo tem sua peculiaridade;
Cada abraço tem o seu medo evidente de saudade;
Sem dúvida, o abraço mais apertado é o abraço da despedida.



Você apertou a campainha
Desci as escadas com as chaves nas mãos
Enquanto você me esperava no portão
Abri o cadeado e nos cumprimentamos pelo olhar...
Não conseguimos olhar nos olhos por um segundo
E juntos, subimos as escadas...
Era a nossa despedida

Na sala, suas coisas já estavam separadas
Respiramos fundo e em silêncio era dito:
"Então é isso mesmo? Chegamos aqui...?!"
Sem nada dizer, concordei que sim

Meu mundo parou
Aquele parecia o evento mais importante da minha vida: o dia em que você voltaria ao nosso apartamento para retirar tudo o que era seu...
Eu não podia acreditar, eu não podia falar, eu não podia dizer, eu não podia chorar
Concordamos que nada mais poderia ser feito por nós dois

Você em silêncio dava passos lentos pela sala
Observava atentamente cada detalhe
Numa pausa, entendi que você se despedia
Me sentei no sofá
Eramos dois impotentes diante dos fatos
Cansados de tentar, cinco anos ao nosso lado
Mesmo assim a gente parecia se recusar em acreditar no fim



Você olhou para trás
Me viu no sofá
E ainda da sala, observava a cozinha
Vagarosamente caminhava até a porta daquele que havia sido por alguns anos o nosso quarto
Naquela hora, lembrei dos tempos quando não havia um quarto nosso
Lembrei dos amigos e amigas que nos acolheram
Lembrei das vezes que pagamos pra dormir, em hotéis, pousadas e motéis
Lembrei das outras vezes em que a gente não tinha o dinheiro pra dormir juntos
Lembrei das luas cheias, da areia da praia e da nossa sombra, uma do lado da outra

Enquanto lembrava, percebi que você já não estava mais na sala
Percebi que havia entrado pela porta do quarto
Compreendi que você também se despedia da gente

Havia prometido pra mim que não iria chorar
Prometi pra mim que não iria dizer uma única palavra
Prometi pra mim que não iria tentar compreender absolutamente nada

Havia compreendido que o fim seria o melhor pra nós dois
Compreendi que não havia vilão, nem mocinho
Compreendi que não havia culpado, nem coitadinho

Havia compreendido que nossa relação tinha dado muito certo
Compreendi que vivemos alguns dos melhores momentos de nossas vidas até então
Compreendi que agora, ali, o nosso amor já não era mais o mesmo
Por isso deveríamos seguir, cada um tentar projetar o seu próprio caminho

Me dei conta do quanto você demorava no quarto
Lentamente caminhei até a porta
Você estava de costas para a porta do quarto
Estava entre o quarto e o banheiro
Parecia observar cada detalhe

Me lembrei do quanto havia sido difícil alugar aquele espaço
Decidimos juntos por ele, entre tantos outros mais viáveis, escolhemos aquele
Cada móvel da casa tinha uma história peculiar
Aquele pequeno apartamento contava parte da nossa trajetória

Me escorei na entrada do quarto
E me despedia de você, enquanto você de despedia da gente...

E num pequeno instante, imaginei que a dor só doia em mim
Imaginei que você saia dali ileso
Imaginei você indiferente
Por isso havia decidido, em nada dizer, nada tentar, nada lamentar
Deveria apenas deixar você ir...

E naquele mesmo instante
Você se virou para a porta do quarto, onde eu estava escorado te observando
Desta vez, olhei em teus olhos e vi todo  teu rosto molhado
Não contive as lágrimas, não conseguia dizer nada, não consegui dar um único passo
Não compreendia suas lágrimas...
Vi sua imagem meio turva, com as lágrimas perdi o foco da visão
Percebi que você vinha em minha direção
Naquele instante, eu não via, nem compreendia muita coisa, apenas ouvia seu choro, apenas chorei com você o quanto doia em mim deixar você ir...



Abraçados em nosso quarto
Choramos nossa despedida
Você precisava seguir
Eu precisava deixar você ir

Naquele abraço apertado
A dor tornava-se maior
Parecia o nosso último abraço

Esquecemos dos vizinhos
Esquecemos do mundo
A nossa dor era mais forte

Nossos corpos
Nossas lágrimas
Nosso silêncio
Nossa despedida

Nos abraçamos e choramos no quarto, na sala, no terraço, no corredor, nas escadas e na calçada

Abraçados choramos pela despedida e sorrimos em gratidão a tudo que a gente construiu, compartilhou e superou durante nossa relação...

Eu e a saudade

Preciso confessar, algumas vezes enquanto caminhava, me perdi pelo caminho; 
Senti medo, frio e aquela angustia peculiar que nos aperta o estômago...
Você compreende quando falo daqueles momentos, onde a única certeza que temos é a de que nada sabemos?
Nessas horas precisei abraçar o silêncio e ouvir alguma melodia delicada que me acalmasse, ao menos por algum mísero instante;
Por muitas vezes respirei fundo, enquanto lágrimas molhavam meu rosto...
Sentir saudades de alguém, não é algo muito bom, menos ainda quando nos convencemos de que o não encontro é a melhor de todas as escolhas;
Hoje me perguntei se por acaso não estaria eu sendo o cara mais covarde, covarde comigo mesmo e com os meus sentimentos: "Por quais motivos você fica aí parado? Você ainda ama? E não vai contar do seu sentimento?!"
Desculpe, é que em tempos de saudades nos tornamos mais vulneráveis e costumamos recorrer ao "se eu tivesse feito assim";
Sei que o "respirar fundo" já apareceu neste texto, mas não vejo outro modo de expressar-me hoje... E por pretexto, respirei fundo;
Hoje acordei bem mais cedo que o de costume;
Procurei por alguém que "deveria" estar ao meu lado, na mesma cama... Apenas procurei e me lembrei;
Procurei por alguém que nos últimos cinco anos andou acordando comigo;
Hoje o tempo estava meio nublado e o silêncio do meu dia, abraçou a saudade que habitava em mim...
Não tive forças pra sair da cama, nem me esforcei pra isso;
Olhei para o telefone e esperei ouvir a voz que me dissesse: "Oi. Bom dia... Você está bem?! Ainda está deitado? Vamos sair pra almoçar fora hoje...?"
Eis que nesse diálogo, entre a saudade e eu, o passar das horas tornou-se imperceptível;
Pisquei os olhos e já passavam das 12 horas; nem o dia era mais inteiro, tudo era metade...
Sai da cama e preparei aquele café e o café me falou do quanto eu não era covarde;
Chorei diante da realidade, pensei na possibilidade de telefonar pra algum amigo e decidi me consolar sozinho... Voltei pra cama e escrevi algo parecido com o que você acabou de ler, um diálogo entre eu e a saudade...