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28 de dezembro de 2017

O modo como tenho vivido...

Faz algum tempo que escrevi aqui.
Ao menos, sinto que diminui a frequência.
Não sei ao certo se ainda escrevo para alguém.
No entanto, preciso destacar que quando comecei a postar alguns textos aqui, não buscava exatamente, ou não apenas ter do outro lado da tela alguém que pudesse ler meus textos.
Mas preciso reconhecer o quanto essa ideia me faz bem, por mais que me deixe preocupado com o modo como escrevo - estou falando dos meus limites com a escrita propriamente.
Escrevo desde a infância, tenho alguns textos guardados - não da forma ideal.
E no cotidiano, continuo escrevendo, porém, perco a maioria desses relatos.
Hoje (28/12/2017), tenho passado por algumas pressões e reflexões, externas e sempre internas.
Pensei há tempos atrás que algum dia essas reflexões haveriam de me dar um intervalo.

Troquei de roupa, mudei a rotina, passei por transformações, mudei a prioridade de alguns pensamentos, redistribui seus lugares na fila, resolvi alguns dilemas essenciais, venci alguns monstros - não todos -, de todo modo, hoje me sinto melhor, ainda que tenha comigo outras angustias do presente.
Mas quando olho o caminho que já trilhei, me dou conta do quanto fui forte, dos inúmeros obstáculos que superei - alguns comuns à todas pessoas, outros exclusivamente meus - contextos.
Sinto uma certa felicidade por ter superado tanta coisa, mesmo não tendo a estabilidade financeira tão sonhada, mas estou satisfeito com o modo como tenho vivido e compreendo as implicações de tudo isso.

Quanto a necessidade que tenho de escrever tais reflexões, esta prática me ajuda a ter uma visão panorâmica de mim, dos meus processos, dos meus dilemas e desafios.
É sempre um alívio fazer isto...

Um abraço gigante.

29 de outubro de 2017

Uma oração, uma prece, um mantra, uma meditação

Que nesta manhã
As nossas forças sejam renovadas
Que o nosso espírito encontre paz
E que a nossa existência perceba a intensidade de uma caminhada serena
Que possamos caminhar em gratidão, abraçar em gratidão, viver em gratidão

21 de outubro de 2017

Vinte e quatro horas por dia

Já respirei saudades
Vinte e quanto horas por dia

Já fui lembrança
A cada novo passo

Já fui ausência
No café, no almoço e no jantar

Já não sou mais o que fui um dia
Sou outro homem
Um novo homem
Ainda que parte do mesmo

Tenho outros sentimentos
Tão intensos quanto as saudades que um dia senti

Tenho outros sentimentos
Tão intensos quanto a ausência que me habitou

Sou liberdade
Vinte e quatro horas por dia

Também faço minhas escolhas

Respeito o que sinto
Respeito o que penso
Respeito e silêncio aquilo que não conheço

Observo mais
Ouço com mais delicadeza
Ouvir, apenas ouvir

Se sinto que é bom
Se sinto que é luz
Se sinto que é amor
Acolho e escolho

Torno ainda mais intenso o que sinto melhor
Ou me reservo o direito de recuar se não me fizer tão bem assim

Tem que me fazer bem
Tem que propagar o bem
Não só à mim
Não só aos meus

O bem deve ser possível à todas
Todas as pessoas

Tenho autonomia compartilhada
Trilhando novos caminhos
Descubro outros de mim

A cada nova situação
Me percebo outro, melhor

Mais leve
Menos tenso
Mais feliz

Quando não, é simples
Me reprogramo
Não eletronicamente
Mas sempre com música

Conectado comigo
E com o nosso universo
Me faço outro
Me refaço outra vez
E mesmo assim, continuo sendo eu a cada novo recomeço.


9 de outubro de 2017

Meu renascimento - Uma reflexão sobre a #curagay e a #homofobia.

No dia 18 de novembro desse ano, celebro meu renascimento. Isso mesmo. 18 de novembro de 2007 foi o dia em que eu renasci. Há dez anos atrás me vi mergulhado num quadro depressivo que parecia não ter jeito.
Naquele contexto, eu vivia um drama acentuado, havia saído de um Seminário Evangélico, faltava apenas um semestre para me formar em Bacharel em Teologia, quando precisei enfrentar naquele contexto o meu maior drama, o meu maior fantasma.
Minha infância foi marcada por algumas violências, por ter alguns “jeitinhos”. Sempre ouvia algumas sentenças: “Isso é coisa de mulher!” “Seja homem!” “Seu viadinho!” Na minha adolescência havia tomado uma decisão: não ser homossexual. Como se isso fosse uma questão de escolha, tipo: “Hoje vou tomar café com leite”.
Naquele momento eu tinha exatos 23 anos. Naquele momento eu tinha um projeto de vida, meu sonho era ser pastor, meu sonho era não ser homossexual. Por favor, não estou sendo irônico, mas franco e sincero.
No entanto, me deparei com a minha realidade, com o sujeito que eu era e sou. Há dez anos, há exatos dez ano, minha alma, minha mente, meu coração... tudo em mim era apenas dor. Naquele momento, eu entendia que a homossexualidade, ou melhor, o meu sentimento e atração por pessoas do mesmo sexo, estava me destruindo, destruindo a minha vida. Tudo o que eu queria era me livrar da minha homossexualidade.
Me submeti à uma terapia que tentou me conduzir ao fator que supostamente me fazia sentir desejo por homens. Embarquei numa tortura que quase me tirou a vida. Embarquei numa investida onde o único objetivo era a reversão. Tudo o que sentia era dor. Se por acaso, havia algum sentimento diferente disso, era nojo, vergonha, medo, raiva. Nada ali me fez bem.
Mas eu não tinha forças, não tinha força alguma para romper com aquilo. Aquela parecia ser a única forma de resolver aquele problema. Aquela tortura seria para o meu bem. Eu haveria de me curar, de me livrar da minha homossexualidade. E se eu deixasse de ser homossexual, eu poderia ter minha vida de volta. As pessoas iriam gostar de mim, iriam me respeitar, iriam ser minhas amigas.
Eu fiz tudo o que eu podia para deixar de ser gay. Orava à Deus, pedia que tivesse misericórdia de mim, que me transformasse, que me livrasse daquele “mal”. Mas nada que eu fizesse adiantava. Comecei a pedir a Deus que me tirasse a vida, pra que minha família e meus amigos evangélicos não passassem pela vergonha de ter um gay na família, ou um gay como amigo – quanto absurdo.
Trabalhava num shopping da cidade e comecei a me expor em situações de risco. Lembro que voltava para casa do trabalho tarde da noite, caminhando pelas ruas de Manaíra. Esperava que alguém na rua me abordasse em um assalto e ali, naquele assalto eu poderia ter os meus problemas solucionados. Uma tiro no peito ou na cabeça, haveriam de me livrar daquela dor.
Até que na noite do dia 17 de novembro de 2007, eu não conseguia encontrar o sono. Pela terceira vez consecutiva, eu não dormia, apenas chorava, chorava e chorava. Não sei qual era a hora quando me levantei da cama para ir ao banheiro. Quando estava saindo do banheiro, vi uma caixa, do tamanho de uma caixa de sapatos, onde minha mãe guardava os remédios da casa.
Não sei explicar. Não sei como foi aquilo. Não havia planejado. Mas naquela hora, eu não pensava em outra coisa. Tomei todos os remédios que estavam ao meu alcance, todos. Eu não pensava em outra coisa, apenas queria me livrar daquela dor, da minha vida, da minha vergonha, do meu medo, da minha culpa, dos olhos que me julgavam, dos dedos que me apontavam, de todos os preconceitos que eu sofria e sem dúvida alguma, o pior deles era todas as ideias que tinha contra mim.
O dia amanhecia, quando minha mãe tentou me acordar. Assustada, perguntava o que eu havia feito com todos aqueles remédios. Lembro que respondi que havia tomado todos. E ela me perguntou por qual motivo eu havia feito aquilo. Respondi que queria morrer. Me segurando nos braços ela gritou por meu irmão, chamava chorando por todos que pudessem ouvir.
Meus irmãos me colocaram num carro. Estavam comigo no banco de trás do carro. Ela de um lado, ele do outro e eu no meio. Quanta dor. Tenho algumas lembranças fragmentadas daquele momento. Lembro de chegar ao hospital, de ser conduzido por meus irmãos até uma maca. Lembro do choro deles. Lembro que o dia amanhecia.
Conversando com minha mãe, no início desse ano de 2017, ela disse que não conseguiu ir ao hospital. Que não tinha forças. Que não queria me ver morrer.
Quando acordei daquela investida mal sucedida – graças a Deus – já havia deixado de ser manhã. Era a tarde linda de 18 de novembro de 2007. Voltando pra casa. A casa estava cheia. Tinha muita gente, muita gente mesmo. Francamente? Eu não tinha nem energia para olhar pra eles.
Ao meu lado, uma amiga e ex-namorada. Ela estava de moto. Pedi pra que ela me tirasse dali. Eu mesmo fui pilotando a moto e ela comigo. Fui até o mirante da Praia do Cabo Branco, aquele antes do farol. Ali, diante do mar e do céu, olhando o horizonte, naquele fim de tarde de um domingo, eu renascia.
Fiz à Deus uma promessa. Que nunca mais na minha vida iria lutar contra aquilo que eu era.
Hoje, madrugada do dia 9 de outubro de 2017, escrevo este texto por algumas razões.
Antes de qualquer coisa, sei que tem muita gente que já tirou sua vida, pelo simples fato de não aceitar sua homossexualidade. Também sei, que muitos podem estar reféns da depressão e do desejo de morte, por achar que a homossexualidade é um pecado, um erro, uma falha, ou algo pelo qual devemos sentir vergonha e culpa. Não!
Minha homossexualidade não me tornou um ser um humano pior ou melhor que outros. Minha homossexualidade não me fez infeliz, inferior, indigno ou qualquer coisa do tipo. Se havia alguma coisa da qual eu precisava me livrar, era das minhas culpas, das minhas angustias e dos meus preconceitos.
A luta contra minha homossexualidade, me tornou um ser humano infeliz, me levou à depressão e me fez tentar suicídio. Depois desse fatídico dia, fui levado por amigos a uma médica psiquiatra, e a partir daquele momento eu comecei a tratar da minha depressão com medicamentos e obviamente que abri mão daquela terapia reversa que apenas me torturava e que me dizia que deveria ser alguém que eu não era. Ao mesmo passo, me dizia que aquela pessoa que eu era, não deveria existir.
Hoje tenho uma relação linda e singular com toda a minha família e pessoas amigas. Amo meus pais e sou amado por eles. Minha mãe é minha melhor amiga. Meus irmãos são os melhores amigos que eu poderia ter. E do mesmo modo, acolho e sou acolhido com afeto por minha avó, por meus sobrinhos, tios, tias, primos e primas – Não há unanimidade. Alguns insistem em me lembrar de alguns trechos bíblicos que condenam a homossexualidade. Muitos se esquecem de tantas outras condenações feitas no mesmo texto. Limitam-se as condenações. Flexibilizam o mesmo texto quando estão na mira do dedo que aponta. Desconsideram o amor contido ali.
Pois bem, minha homossexualidade não me faz triste.
Ser quem sou me faz uma pessoa feliz, é maravilhoso poder ser você mesmo.
Se tem uma coisa que me entristece é o preconceito, o ódio e as violências das imposições, dos discursos moralistas, das falas e posturas hipócritas. São discursos como esses que violentam psicologicamente e que ao mesmo passo “legitimam” o ódio em tantas pessoas que de forma banal e desumana, decidem tirar a vida de alguém pelo simples fato de não aceitarem que eles possam ser quem são.
Hoje eu escrevo para dizer que não aceito tais discursos.
Escrevo para dizer que não vou me calar diante de todas as investidas malignas de criminalizar a homoafetividade.
Ainda que "vocês" continuem nos tirando o direito à vida.
Enquanto muitos decidem odiar homossexuais, eu decidi ser quem sou, decidi viver minha vida. Aprendi a me respeitar e me querer bem. Meu mundo ficou bem melhor assim, não só meu, mas de todos que estão perto de mim.
Eu renasci.
Apenas um detalhe. No dia 18 de novembro, Elza Soares estará se apresentando no Teatro Pedra do Reino em João Pessoa. Momento lindo para celebrar a vida e o meu renascimento. Vamos?


11 de setembro de 2017

Confissões - Sou grato ao universo por cada acontecimento e encontro

Foram tantas vezes que a vida me mostrou a necessidade de um recomeço, que as vezes uma tristeza um tanto esperta e traiçoeira, tentou me dar aquela rasteira.
Sim, já levei algumas rasteiras da vida, e uma delas literalmente me jogou no chão.
Neste dia, pensei que não mais conseguiria ficar de pé.
Cada pessoa leva consigo suas dores, suas marcas e eu tenho as minhas.
Algumas mais leves, outras mais intensas.
Mas acima delas, tenho comigo não apenas a força da vida, mas a alegria, o prazer de estar vivo e poder viver.
Não gosto de ficar revendo o passado que me faz sofrer, no entanto, não posso negar os caminhos que trilhei.
Porém, quando essas lembranças tentam falar mais alto do que todo o caminho que trilhei, logo corro para abraçar os meus amigos e a minha família.
Quando estou com eles, ou quando estou fazendo algo que gosto, mesmo que sozinho, sinto que a forma como abraço as boas energias, me fortalece e me faz ir além da minhas dores.
Além de amar as minhas pessoas querido, amo estar comigo...
Gosto de ver o cair da tarde.
Gosto de ver o dia nascer.
Gosto de caminhar pelas ruas da cidade.
Me sinto bem caminhando pela orla, seja no calçadão ou na praia...
Gosto de estar com os pés descalços...
Gosto de abraçar e dizer que amo.
Necessito ser grato às pessoas e ao universo por tudo, inclusive pelas dores, afinal de contas, em tudo o que vivo e experimento, sempre haverá a oportunidade de ser uma pessoa melhor, para mim mesmo e para o mundo.
Deixo hoje aqui registrado a minha alegria por estar vivo.
A minha gratidão por cada momento que me foi possível recomeçar.
A minha gratidão ao universo, por cada pessoa, por cada experiência.
Que possamos sempre, compartilhar com o mundo a nossa alegria e gratidão pela vida...

15 de agosto de 2017

Elza Soares - Mulher do Fim do Mundo / The woman at the end of the world







Meu choro não é nada além de carnaval
É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Me joga na avenida que não sei qualé

Pirata e super homem cantam o calor
Um peixe amarelo beija minha mão
As asas de um anjo soltas pelo chão
Na chuva de confetes deixo a minha dor
Na avenida, deixei lá
A pele preta e a minha voz
Na avenida, deixei lá
A minha fala, minha opinião
A minha casa, minha solidão
Joguei do alto do terceiro andar
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida, dura até o fim
Mulher do fim do mundo
Eu sou e vou até o fim cantar
Meu choro não é nada além de carnaval
É lágrima de samba na ponta dos pés
A multidão avança como vendaval
Me joga na avenida que não sei qualé
Pirata e super homem cantam o calor
Um peixe amarelo beija minha mão
As asas de um anjo soltas pelo chão
Na chuva de confetes deixo a minha dor
Na avenida, deixei lá
A pele preta e a minha voz
Na avenida, deixei lá
A minha fala, minha opinião
A minha casa, minha solidão
Joguei do alto do terceiro andar
Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida
Na avenida, dura até o fim
Mulher do fim do mundo
Eu sou, eu vou até o fim cantar
Mulher do fim do mundo
Eu sou, eu vou até o fim cantar, cantar
Eu quero cantar até o fim
Me deixem cantar até o fim
Até o fim, eu vou cantar
Eu vou cantar até o fim
Eu sou mulher do fim do mundo
Eu vou, eu vou, eu vou cantar
Me deixem cantar até o fim

The woman at the end of the world

La la la laia la la laia
La la la laia la la laia
Até o fim eu vou cantar, eu quero cantar
Eu quero é cantar, eu vou cantar até o fim, la la la lara la lara laia
Eu vou cantar, eu vou cantar
Me deixem cantar até o fim
Me deixem cantar até o fim
Me deixem cantar
Me deixem cantar até o fim

Lá estou eu, vivendo outra vez



Sobre caminhos
Caminhos que trilhei
Alguns, confesso que nem sei como sobrevivi

Sou frenético o tempo todo
Consigo gerar silêncio interno ao mesmo tempo
Ao mesmo tempo que preciso me defender

Após uma angústia
Lá estou eu diante do pôr-do-sol
Lá estou eu caminhando descalço de uma ponta a outra da praia
Lá estou eu tomando um café ou um chocolate quente
Lá estou eu preparando aquela macarronada ou salada para os meus amigos





Logo depois de uma dor intensa
Lá estou eu preparando aquele churrasco ou aquela feijoada para e com a minha família
Lá estou eu vendo o sol nascer
Lá estou eu tomando banho de mar, de rio, de cachoeira, de piscina, de chuveiro no quintal
Lá estou eu andando nu em Tambaba










Depois de um dia inteiro acompanhando meu pai no hospital
Lá estou eu comprando chocolate amendoins no supermercado
Lá estou eu levando flores e um livro para algum amigo
Lá estou eu dando e recebendo carinho de Belinha, Marley, Dilma ou Klymth
Lá estou eu cuidando do jardim de uma amiga

Não poderia ser diferente
Eu não poderia trair a vida
Eu não poderia tornar tudo ainda mais doloroso
A vida é tão linda, tão leve, tão generosa, tão especial, tão possível...

Bom, agora preciso dormir
É hora de voltar pra cama








Fragmentos livres de mim

Me embriado em pensamentos
Me perco em lembranças
Me encontro em caminhos que trilhei

Me apaixono por memórias
Me entrego a novos sentimentos
E quando sinto que preciso recomeçar
Simplesmente recomeço

Não sei ser diferente
Não posso ser outro
Não me sinto confortável sendo meio termo

Não me sinto feliz, tentando ser quem não sou
Por isso, não tento
Não arrisco em algo que não me move
Não pago pra ver, quando não sinto

Vivi pouco, é verdade
Mas o que vivi, vivi intensamente
Pois quase tudo o que fiz nesta vida, foi por simplesmente sentir

Por vezes, algumas decisões soaram um tanto equivocadas
Equivocadas leituras, equivocadas prévias
Equivocadas opiniões

A vida também é feita de equívocos
Até que o universo decide nos surpreender

Nasci para sentir
Nasci para viver essa busca pelo prazer, pela essência nas coisas simples
Pelo abraço dos meus pais, primos, tias, avó, irmãos e sobrinhos nos almoços de domingos

Nasci para encontrar e reencontrar pessoas amigas de outras vidas, nesta que vivo agora
Nasci para compartilhar, a fé, o amor, a esperança e a força que tenho comigo
Nasci para amar e ser amado, ainda que "só"

Nem tudo em meu caminhar é essencialmente poesia
Mas tudo aquilo que de algum modo, insista em me afastar da ternura e da melodia
Logo mais, logo menos, o espinho em mim há de brotar flor

Sou inteiro, ainda que fragmentado
Sou intenso, ainda que cuidadoso
Sou sentimento bom, ainda que por vezes surpreendido por lembranças que questionam o meu sentir

Sou leveza, ainda que firme
Sou felicidade, ainda que pise descalço o chão que trilho
Sou o meu próprio recomeço

Sou um
Sou muitos
Sou memórias
Sou afeto
Sou a teimosia em pessoa
Sou alegria
Sou Fernando
Sou Preto
Sou Nando
Sou humano


13 de agosto de 2017

Dia dos Pais. Pai: "Ôh Preto, quando é que tu vem?"

Estou no Rio Grande do Norte e fiz aquela ligação pra painho, que está na Paraíba. 
Acho que em muitos anos, esse é o nosso primeiro Dia dos Pais que não estamos reunidos. 
Aí segue um pedacinho da nossa conversa:


Eu: 'Bença' pai?!
Pai: Deus te abençoe meu filho. Muito feliz de estar falando com você.
Eu: Também pai, estou muito feliz de falar com o senhor.
Pai: Olhe, estou com saudades de você. Faz muitos anos que a gente não se fala. (Deve ter uns quinze dias que eu estava com eles - hehehehe  ).
Eu: (Não questiono o tempo sugerido: muitos anos. Apenas mantenho a conversa e foco na fala dele.) Eu também pai, estou com saudades do senhor.
Pai: Estou muito feliz por você ter me ligado. Ainda bem que hoje é o Dia dos Pais, se não você não me ligava. (Agora eu me entrego, acabo rindo ao telefone. Também não questiono, mantenho o 'fluxo').
Eu: Exato painho, ainda bem que existe esse dia, pra gente lembrar. Te amo muito.
Pai: Obrigado por tudo, viu? Sinto tua falta. Estou muito feliz de você ter me ligado. Ôh Preto, quando é que tu vem?
Eu: Pai, devo estar indo no próximo fim de semana. Vou e fico aí com vocês.
Pai: Olhe, guardei um jerimum pra você. Cobri com mato. Pra quando você chegar! É você quem vai procurar ele e vai tirar ele pra gente comer. Viu?
Eu: Tá certo pai, quando eu chegar vou procurar o jerimum no mato e vou tirar ele pra gente comer. (Eu não gosto muito de jerimum, mas esse deve ser saboroso).
Feliz dia dos pais.


10 de julho de 2017

Palavras soltas, desconexas

Ele temia a solidão
Mas em tempos de chuva, gostava de ficar só
Ouvia Edit Piaf
Tomava chá, leite e café
Escrevia palavras soltas, desconexas, sem propósitos
Caminhava na orla, de uma ponta a outra
Via beleza no outono
Gostava das folhas secas encontrando a grama verde
Também via beleza nos ipês amarelos
Fica por horas diante do mar
Em silêncio, ele, sua alma e o mar
As vezes, mergulhado em seus silêncios, conseguia se refazer, se por de pé e lentamente, cantando alguma canção do rádio, ele voltava a caminhar.


9 de julho de 2017

Quando você se foi

Você foi e eu fiquei
Fiquei parado no tempo
Tentei fazer qualquer coisa
Fiz tudo o que podia
Mas tudo, absolutamente tudo
Tudo me trazia você

Você se foi e eu fiquei
Fiquei te esperando
Te esperei consciente
Inconscientemente te esperei
Nem você, nem eu
Ninguém voltou

Você se foi e o tempo parou
Por um instante, não sabia se era dia
Por alguns instantes, não sabia se era noite
O tempo converteu-se numa única eternidade
Tudo era inverno
Inverno era outono, haviam folhas no chão

Você se foi e eu chorei
Chorei como uma criança
Chorei de dor
Chorei por amor
Chorei para me consolar
Chorei tentando me fortalecer

Você se foi e me escondi
Me escondi da vida
Me escondi dos amores
Disse não à poesia
Evitei encontros
Mas não conseguia evitar você

Você se foi e eu me perdi
Esqueci como se ama, tentando não te amar
Busquei por novos caminhos
Descobri outros em mim
Percebi um outro eu sem você
Contudo, preferia você comigo

O tempo passou
O tempo passa
Mas é raro um dia que eu não lembre de você, de nós dois.


6 de julho de 2017

Sonetos Serenos

Sonetos serenos
Silêncios expostos

Ele fechava os olhos
E caminhava dentro de si

Entre lembranças
Entre afetos e memórias

Ele revivia sentimentos
Num momento entregava-se a melodias

Num outro era apenas resistência
Resistia ressentir aquilo que julgava improvável

Mas o improvável, existia
O improvável também resistia dentro si.

3 de julho de 2017

Não temia ser percebido feminino

Era intenso feito fogo
Não tinha medo de amar
Não temia sofrer

Era sereno feito vento
Um constante apaixonado
Não temia sentir

Amante, errante
Desvairado, debochado
Teimoso, delicado

Caminhava com tranquilidade
Buscava perceber o sentimento, em si, nos outros, no cotidiano

Não temia ser percebido enquanto memino
Não temia ser percebido feminino
Para viver seu amor, não mediria esforços

Não era homem disposto a certas negociações
Quando amava, amava mesmo


27 de maio de 2017

Caminhos, memórias e sentimentos

As horas passam
O vento muda de direção
Entre o dia e a noite, não percebo intervalos

Dentro de mim há uma pausa
No meu interior encontro melodias e sentimentos

Lembro de lugares onde estive
Lembro de pessoas que abracei
Lembro de sentimentos que vivi

Em meio às lembranças e aos meus sentimentos
Caminhos que trilhei se cruzam
Memórias se encontram

Memórias de um menino
Memórias de uma criança
Memórias de um homem
Memórias de um amante
Memórias de um pastor
Memórias de um filho
Memórias de um amigo
Memórias vividas, silenciadas, compartilhadas... memórias

Respiro intensamente
Acolho o grito do meu silêncio

Entre meus medos, meus limites e minhas inseguranças
Acolho num abraço os fragmentos de mim
O silêncio que escuto, me é oportuno

O tempo agora passa mais devagar
As angústias perdem aquela força peculiar

Rever caminhos, repensar projetos
Tenho algumas certezas
Entre elas, a necessidade e desejo de caminhar leve

A medida que escrevo
Removo dos meus ombros
E de minha alma
Tudo aquilo que pesa mais do que deveria

Que a leveza
Que a melodia
A alegria
E o sorriso generoso
Nos encontre em todos instantes
Especialmente, naqueles onde o tempo passa sem se deixar perceber

Um abraço afetuoso.







27 de abril de 2017

Memórias de um golpe

Logo após o 'fim' das eleições de 2014, percebemos por parte dos que foram derrotados pelas urnas o não reconhecimento do processo eleitoral. A partir dali, discursos constantes foram direcionados contra a presidenta reeleita, em sua grande maioria estes discursos buscavam desconstruir a imagem de Dilma, o ponto de partida de todos os ataques, concentravam-se num único fato: Uma mulher ocupava pela segunda o cargo mais cobiçado de um país.
Ainda no início de 2015, a Câmara Federal elegia Eduardo Cunha enquanto presidente. A oposição celebrava a eleição de Cunha enquanto uma derrota do PT. Todos os telejornais falavam a respeito das dificuldades que o governo teria para governar. Aqui ainda cabe lembrar da fala do Pastor Sila Malafaia - o maior malandro do mercado nacional da fé. O paspalho anunciava em seu programa de TV a vitória do 'povo de Deus' contra o 'demônio' que estaria encarnado em Dilma e no próprio PT.
Estava claro e posto que as dificuldades que o governo de Dilma iria enfrentar, não seriam poucas. No entanto, por mais que tivéssemos a mínima clareza dos fatos, suponho que a gente não esperava que em 26 de abril de 2017, o nosso país chegasse ao ponto que chegou.
Com Eduardo Cunha na presidência da Câmara Federal, todas as possíveis ações do governo Dilma foram praticamente sabotadas. Tenho dito que Dilma era a pessoa certa, na hora certa. Explico: acredito que a sua firmeza e decisão de não se curvar as chantagens feitas por todo o nosso sistema político, judiciário e midiático, permitiu que o povo brasileiro pudesse definitivamente compreender como o 'jogo' funciona - continuo.
Esse momento pode ser resumido na conversa de Renan Calheiros com o Romero Jucá:

**“Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, diz Jucá, um dos articuladores do impeachment de Dilma. Machado respondeu que era necessária “uma coisa política e rápida”.
**“Jucá acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado disse: “aí parava tudo”. “É. Delimitava onde está, pronto”, respondeu Jucá, a respeito das investigações.
**JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir.
Lhe pergunto: Quem hoje é o relator da Lava-jato? Marco Aurélio. Ex-advogado do PCC e investigado na própria Lava-jato. Será que o pacto funcionou?
E eis que um pacto nacional foi costurado e apresentado a nação em forma de 'pato amarelo' - quá quá!. Indústria, mídia, a classe política e jurídica, juntas,nesse PACTO NACIONAL. A TV Globo convocava a nação para protestar pela saída de Dilma. Na rua camisetas amarelas da CBF e dancinhas pedindo a saída de Dilma. Nas varandas dos condomínios de luxo, homens e mulheres de BENS, batiam nas panelas.
Em 31 de agosto de 2016, a presidenta Dilma Rousseff foi afastada do cargo. O pacto nacional funcionou. O acordo foi celebrado. Temer assumiu a presidência e desde então tem obtido o apoio do Senado e da Câmara Federal para 'pôr ordem' no País. Veja o que Aécio disse sobre o mandato do Drácula, digo, do Temer:
**"Apoiar esse governo para que faça as reformas que nós faríamos. Estimular este governo para que tome as medidas que nós tomaríamos. Para que enxugue o Estado como nós enxugaríamos. Para que coloque pessoas qualificadas como nós colocaríamos. Ele [Temer] tem que se preocupar em passar para a história como o presidente que teve coragem em, aproveitando um momento que o destino lhe ofereceu, para fazer aquilo que o governo do PT não fez".
Lembro-me das inúmeras conversas que tive com muita gente, gente do meu cotidiano, gente de casa, também com gente que não conhecia, que encontrava nas ruas ou nas filas do mercado, da padaria, nas paradas de ônibus. E quando falava sobre uma possível saída de Dilma e entrada de Temer no governo, diziam que eu fazia terrorismo.
Mas hoje, o chamado pacotes de maldades de Temer e de toda sua corja envolvida nesse pacto, chegou ao limite - será? 
É certo que hoje para os trabalhadores que apoiaram esse processo desde o seu embrião, estão testemunhando uma realidade que mais parece um pesadelo.

Confesso que sempre soube que essa elite não tinha escrúpulos algum para alcançar o poder e oprimir a população. Mesmo assim eu não esperava tanta desgraça em meu país.
E ainda vale considerar que, todas as decisões tomadas até aqui por esse PACTO/ACORDO NACIONAL, ainda não estão afetando diretamente o cotidiano das pessoas. 

Mais um dia, menos outro e iremos sentir na pele o que a mídia apresenta enquanto 'reforma' e medidas que dizem recuperar a economia. Recuperar a economia para quem? Já vi esse discurso do 'milagre econômico' que oprime e excluí os trabalhadores.

Eu sei de uma coisa... haverá reação.
E da mesma forma que subestimamos estes bandidos, hoje eles subestimam o povo brasileiro.

Mas esse suposto estado de inércia não permanecerá por muito tempo.
Por fim recorro a poesia de Chico Buarque:
"...Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro...

...Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar...

...Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa..."

Sexta-feira temos um encontro marcado, nas ruas desse Brasil.