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31 de março de 2015

Todas as cartas de amor são ridículas - Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor são 
Ridículas. 
Não seriam cartas de amor se não fossem 
Ridículas. 

Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
Como as outras, 
Ridículas. 

As cartas de amor, se há amor, 
Têm de ser 
Ridículas. 

Mas, afinal, 
Só as criaturas que nunca escreveram 
Cartas de amor 
É que são 
Ridículas. 

Quem me dera no tempo em que escrevia 
Sem dar por isso 
Cartas de amor 
Ridículas. 

A verdade é que hoje 
As minhas memórias 
Dessas cartas de amor 
É que são 
Ridículas. 

(Todas as palavras esdrúxulas, 
Como os sentimentos esdrúxulos, 
São naturalmente 
Ridículas.) 

Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa 

Amor com humor, por favor

O amor pode ser aquele 'inconveniente' que chega sem avisar e que entra sem bater. Normalmente, ele não costuma receber convites, é tipo o penetra caricato e irreverente.
O amor pode ser aquele que vem à existência sem um motivo especifico, ele apenas nos convence de que estamos encantados por alguém e isto basta. Pense num futuro! Ao menos no início, quando chega a 'prima Vera'... flores na sala, flores no quarto e não apenas flores nos jardins dos outros.


O amor pode ser aquela plantinha teimosa que mesmo sem ser regada, tá ali, sobrevivendo por si. Mas como uma boa plantinha - ai ai ai... - uma hora ela vai precisar ser regada. Afinal de contas, sabemos que nem todo dia cai chuva do céu. Sim, há quem viva de milagres!
O amor costuma ser bom, ser puro e altruísta. O amor persiste enquanto um sentimento nobre e leve. Ao menos ele tenta ser agradável, mas quando não é correspondido, vira chiclete derretido pelo sol na calçada. Por acaso existe coisa mais chata? Era melhor ter tropeçado numa pedra no meio do caminho... Ah uma pedra!



O amor costuma ser desastrado e por isso mesmo engraçado. Ele prepara o café da manhã, arruma tudo bem bonitinho numa bandeja e sem querer deixa o banquete cair na cama, ao som de um... "Bom dia Amor. Amor?!"
O amor normalmente é valente e corajoso, faz gago falar sem pestanejar, faz tartaruga correr em passos de lince, faz humano voar e isso sem tomar energético algum. O amor faz qualquer sedentário virar atleta olímpico. Coisinha, 2016 tá aí! Eu digo é nada!




O amor é simplesmente ridículo, só pra fazer lembrar Fernando Pessoa:


"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas."

23 de março de 2015

Poesia de Apartamento


Era uma segunda-feira
O sol não se esforçava em sair de trás das nuvens
A cidade amanhecia preguiçosa, enquanto muitos caminhavam só por obediência as regras impostas pelo tempo
Os ponteiros do relógio, não deixava ninguém perder 'as horas':
Hora de levantar! Hora de tomar banho! Hora do café! Hora de pegar o ônibus! Hora disso e hora daquilo!

Mas ele resistia, acordava em seu próprio tempo
Tudo em seu interior era serenidade
Ele não tinha presa
E fazia oposição as ordens dos ponteiros de forma leve e prazerosa
Ele não corria junto ao tempo que ia



Nesse ritmo conflituoso
Entre as demandas do dia
E a calma da alma
Canções o despertavam
Com afago, começava a semana

Em meio as melodias, ele se colocava de pé
Sentado na beira da cama
Sorria em gratidão
Firmava seus pés descalços no chão frio
Enquanto olhava ao redor, a casa que chamava de sua

Caminhando até a sala, abria as janelas da casa
Lá fora, ainda parecia bem cedo
Esquentava um leite no fogão
Enquanto num caderno, começava a escrever
O texto que você agora lê



Entre a melodia e a poesia
Habita o prazer das nossas vivências
Quem por acaso, pensa que em nosso cotidiano
Não há encanto
Engana-se...

Abra os olhos para o que já existe
Firmando os pés no chão
Perceba onde você está
Nem no passado, nem no futuro
O melhor do tempo, é o seu presente

Que tal uma xícara de leite quente, com chocolate, café e canela?





21 de março de 2015

La Edad Del Cielo - Jorge Drexler

"No somos más
Que una gota de luz,
Una estrella fugaz,
Una chispa, ran sólo,
En la edad del cielo
No somos lo
Que quiséramos ser,
Solo un breve latir
En un silencio antiguo
Con la edad del cielo

Calma,
Todo está en calma,
Deja que el beso dure,
Deja que el tiempo cure,
Deja que el alma
Tenga la misma edad
Que la edad del cielo


No somos más
Que un puñado de mar,
Una broma de Dios,
Un capricho del sol
Del jardín del cielo
No dames pie
Entre tanto tic tac,
Entre tanto Big Bang,
Sólo un grano de sal
En el mar del cielo
Calma,
Todo está en calma,
Deja ue el beso dure,
Deja que el tiempo cure,
Deja que el alma
Tenga la misma edad
Que la idad del cielo..."


20 de março de 2015

Seis Quatro Três / Um

É madrugada
E o silêncio da cidade, parece compreender minha saudade de você
Com os pés descalços, sinto o frio do chão
As lâmpadas da casa estão todas acesas
Acesas como as minhas memórias de você
É fato que não consegui te esquecer

Na sala, todos os livros reunidos observam atentamente enquanto escrevo
Tudo nesta casa, pareceu parado no tempo
Há um tempo atrás, a casa chorava comigo
Eis que aos poucos, fomos nos consolando
A casa, eu, os livros, as xícaras e os incensos
No início, não compreendíamos o fim

Fizemos segredo do nosso choro e da nossa dor, quando você se foi



Por muito tempo, esperamos você chegar
Sempre que a tarde caia, não demorava muito e você chegava para o jantar
Demorou, até que num certo momento, percebemos que a nossa rotina era uma outra
E aos poucos, fomos percebendo e preenchendo o vazio que você deixou

Estendemos um tapete na sala
Além dos livros, trouxemos vasos e flores para as estantes
No terraço, outras plantas pra cuidar
E nas xícaras, mais chás, café e leite

Entre um brinde e outro, o vinho me lembrava você




No sofá, as mesmas pessoas de sempre
As mesmas que nos acompanharam desde o começo de tudo
Minha família e os nossos amigos

E hoje, confesso que desisti de te esquecer
Lembro quando vem
Sigo de uma forma ou de outra

Não é possível esquecer, que um dia houve amor


14 de março de 2015

Um dia após o outro





Um dia após o outro
Um dia de cada vez
E a dor que nos impedia de caminhar
Já não faz mais sentido
Já não pode mais permanecer
Um dia após o outro
Um dia de cada vez
E a gente vai lentamente se colocando de pé
Respirando fundo, pensando com calma
E já temos uma nova direção
Um dia após o outro
Um dia de cada vez
Eis que a gente já voltou a caminhar
Mesmo que os olhos ainda persistam vez por outra marejados
E a cada novo passo, a nossa dor vai virando passado
Um dia após o outro
Um dia de cada vez
E já conseguimos contemplar um novo horizonte
Amanhecer de chuva ou de céu azul
A nossa alma sabe o que deve fazer
Um dia após o outro
Um dia de cada vez
E já não cobramos tanto de nós mesmos
Compreendemos a importância do choro e da dor
Sabemos do real significado de um sorriso nosso
Um dia após o outro
Um dia de cada vez
Já não mais esperamos tanto da vida
Afinal de contas essa vida é nossa
E fizemos uma escolha: viver hoje
Um dia após o outro
Um dia de cada vez
O passado ainda pode nos visitar
Mas o nosso presente, não pode esperar
Vivemos o hoje, com uma serenidade peculiar
Um dia após o outro
Um dia de cada vez
Eis que os nossos passos estão cada vez mais firmes
Enquanto caminhamos observamos o mundo
Desde o por do sol, até o soprar do vento
Contemplar a vida também é viver
E as coisas pequenas nos são essenciais
Caminhemos sempre adiante...



"Pra começar
Cada coisa em seu lugar
E nada como um dia após o outro
Por que apressar?
Se nem sabe onde chegar
Correr em vão se o caminho é longo
Quem se soltar, da vida vai gostar
E a vida vai gostar de volta em dobro
E se tropeçar
Do chão não vai passar
Quem sete vezes cai, levanta oito
Quem julga saber
E esquece de aprender
Coitado de quem se interessa pouco
E quando chorar
Tristeza pra lavar
Num ombro cai metade do sufoco
O novo virá
Pra re-harmonizar
A terra, o ar, água e o fogo
E sem se queixar
As peças vão voltar
Pra mesma caixa no final do jogo
Pode esperar
O tempo nos dirá
Que nada como um dia após o outro
O tempo dirá
O tempo é que dirá
E nada como um dia apos o outro"
https://youtu.be/duaGQRtESyU

2 de março de 2015

Abraço de despedida

Ei, deixe a poesia brotar;
Não, não precisa ter medo;
Recomece sempre que desejar;
Cada parágrafo tem sua peculiaridade;
Cada abraço tem o seu medo evidente de saudade;
Sem dúvida, o abraço mais apertado é o abraço da despedida.



Você apertou a campainha
Desci as escadas com as chaves nas mãos
Enquanto você me esperava no portão
Abri o cadeado e nos cumprimentamos pelo olhar...
Não conseguimos olhar nos olhos por um segundo
E juntos, subimos as escadas...
Era a nossa despedida

Na sala, suas coisas já estavam separadas
Respiramos fundo e em silêncio era dito:
"Então é isso mesmo? Chegamos aqui...?!"
Sem nada dizer, concordei que sim

Meu mundo parou
Aquele parecia o evento mais importante da minha vida: o dia em que você voltaria ao nosso apartamento para retirar tudo o que era seu...
Eu não podia acreditar, eu não podia falar, eu não podia dizer, eu não podia chorar
Concordamos que nada mais poderia ser feito por nós dois

Você em silêncio dava passos lentos pela sala
Observava atentamente cada detalhe
Numa pausa, entendi que você se despedia
Me sentei no sofá
Eramos dois impotentes diante dos fatos
Cansados de tentar, cinco anos ao nosso lado
Mesmo assim a gente parecia se recusar em acreditar no fim



Você olhou para trás
Me viu no sofá
E ainda da sala, observava a cozinha
Vagarosamente caminhava até a porta daquele que havia sido por alguns anos o nosso quarto
Naquela hora, lembrei dos tempos quando não havia um quarto nosso
Lembrei dos amigos e amigas que nos acolheram
Lembrei das vezes que pagamos pra dormir, em hotéis, pousadas e motéis
Lembrei das outras vezes em que a gente não tinha o dinheiro pra dormir juntos
Lembrei das luas cheias, da areia da praia e da nossa sombra, uma do lado da outra

Enquanto lembrava, percebi que você já não estava mais na sala
Percebi que havia entrado pela porta do quarto
Compreendi que você também se despedia da gente

Havia prometido pra mim que não iria chorar
Prometi pra mim que não iria dizer uma única palavra
Prometi pra mim que não iria tentar compreender absolutamente nada

Havia compreendido que o fim seria o melhor pra nós dois
Compreendi que não havia vilão, nem mocinho
Compreendi que não havia culpado, nem coitadinho

Havia compreendido que nossa relação tinha dado muito certo
Compreendi que vivemos alguns dos melhores momentos de nossas vidas até então
Compreendi que agora, ali, o nosso amor já não era mais o mesmo
Por isso deveríamos seguir, cada um tentar projetar o seu próprio caminho

Me dei conta do quanto você demorava no quarto
Lentamente caminhei até a porta
Você estava de costas para a porta do quarto
Estava entre o quarto e o banheiro
Parecia observar cada detalhe

Me lembrei do quanto havia sido difícil alugar aquele espaço
Decidimos juntos por ele, entre tantos outros mais viáveis, escolhemos aquele
Cada móvel da casa tinha uma história peculiar
Aquele pequeno apartamento contava parte da nossa trajetória

Me escorei na entrada do quarto
E me despedia de você, enquanto você de despedia da gente...

E num pequeno instante, imaginei que a dor só doia em mim
Imaginei que você saia dali ileso
Imaginei você indiferente
Por isso havia decidido, em nada dizer, nada tentar, nada lamentar
Deveria apenas deixar você ir...

E naquele mesmo instante
Você se virou para a porta do quarto, onde eu estava escorado te observando
Desta vez, olhei em teus olhos e vi todo  teu rosto molhado
Não contive as lágrimas, não conseguia dizer nada, não consegui dar um único passo
Não compreendia suas lágrimas...
Vi sua imagem meio turva, com as lágrimas perdi o foco da visão
Percebi que você vinha em minha direção
Naquele instante, eu não via, nem compreendia muita coisa, apenas ouvia seu choro, apenas chorei com você o quanto doia em mim deixar você ir...



Abraçados em nosso quarto
Choramos nossa despedida
Você precisava seguir
Eu precisava deixar você ir

Naquele abraço apertado
A dor tornava-se maior
Parecia o nosso último abraço

Esquecemos dos vizinhos
Esquecemos do mundo
A nossa dor era mais forte

Nossos corpos
Nossas lágrimas
Nosso silêncio
Nossa despedida

Nos abraçamos e choramos no quarto, na sala, no terraço, no corredor, nas escadas e na calçada

Abraçados choramos pela despedida e sorrimos em gratidão a tudo que a gente construiu, compartilhou e superou durante nossa relação...

Eu e a saudade

Preciso confessar, algumas vezes enquanto caminhava, me perdi pelo caminho; 
Senti medo, frio e aquela angustia peculiar que nos aperta o estômago...
Você compreende quando falo daqueles momentos, onde a única certeza que temos é a de que nada sabemos?
Nessas horas precisei abraçar o silêncio e ouvir alguma melodia delicada que me acalmasse, ao menos por algum mísero instante;
Por muitas vezes respirei fundo, enquanto lágrimas molhavam meu rosto...
Sentir saudades de alguém, não é algo muito bom, menos ainda quando nos convencemos de que o não encontro é a melhor de todas as escolhas;
Hoje me perguntei se por acaso não estaria eu sendo o cara mais covarde, covarde comigo mesmo e com os meus sentimentos: "Por quais motivos você fica aí parado? Você ainda ama? E não vai contar do seu sentimento?!"
Desculpe, é que em tempos de saudades nos tornamos mais vulneráveis e costumamos recorrer ao "se eu tivesse feito assim";
Sei que o "respirar fundo" já apareceu neste texto, mas não vejo outro modo de expressar-me hoje... E por pretexto, respirei fundo;
Hoje acordei bem mais cedo que o de costume;
Procurei por alguém que "deveria" estar ao meu lado, na mesma cama... Apenas procurei e me lembrei;
Procurei por alguém que nos últimos cinco anos andou acordando comigo;
Hoje o tempo estava meio nublado e o silêncio do meu dia, abraçou a saudade que habitava em mim...
Não tive forças pra sair da cama, nem me esforcei pra isso;
Olhei para o telefone e esperei ouvir a voz que me dissesse: "Oi. Bom dia... Você está bem?! Ainda está deitado? Vamos sair pra almoçar fora hoje...?"
Eis que nesse diálogo, entre a saudade e eu, o passar das horas tornou-se imperceptível;
Pisquei os olhos e já passavam das 12 horas; nem o dia era mais inteiro, tudo era metade...
Sai da cama e preparei aquele café e o café me falou do quanto eu não era covarde;
Chorei diante da realidade, pensei na possibilidade de telefonar pra algum amigo e decidi me consolar sozinho... Voltei pra cama e escrevi algo parecido com o que você acabou de ler, um diálogo entre eu e a saudade...