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27 de abril de 2017

Memórias de um golpe

Logo após o 'fim' das eleições de 2014, percebemos por parte dos que foram derrotados pelas urnas o não reconhecimento do processo eleitoral. A partir dali, discursos constantes foram direcionados contra a presidenta reeleita, em sua grande maioria estes discursos buscavam desconstruir a imagem de Dilma, o ponto de partida de todos os ataques, concentravam-se num único fato: Uma mulher ocupava pela segunda o cargo mais cobiçado de um país.
Ainda no início de 2015, a Câmara Federal elegia Eduardo Cunha enquanto presidente. A oposição celebrava a eleição de Cunha enquanto uma derrota do PT. Todos os telejornais falavam a respeito das dificuldades que o governo teria para governar. Aqui ainda cabe lembrar da fala do Pastor Sila Malafaia - o maior malandro do mercado nacional da fé. O paspalho anunciava em seu programa de TV a vitória do 'povo de Deus' contra o 'demônio' que estaria encarnado em Dilma e no próprio PT.
Estava claro e posto que as dificuldades que o governo de Dilma iria enfrentar, não seriam poucas. No entanto, por mais que tivéssemos a mínima clareza dos fatos, suponho que a gente não esperava que em 26 de abril de 2017, o nosso país chegasse ao ponto que chegou.
Com Eduardo Cunha na presidência da Câmara Federal, todas as possíveis ações do governo Dilma foram praticamente sabotadas. Tenho dito que Dilma era a pessoa certa, na hora certa. Explico: acredito que a sua firmeza e decisão de não se curvar as chantagens feitas por todo o nosso sistema político, judiciário e midiático, permitiu que o povo brasileiro pudesse definitivamente compreender como o 'jogo' funciona - continuo.
Esse momento pode ser resumido na conversa de Renan Calheiros com o Romero Jucá:

**“Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, diz Jucá, um dos articuladores do impeachment de Dilma. Machado respondeu que era necessária “uma coisa política e rápida”.
**“Jucá acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional “com o Supremo, com tudo”. Machado disse: “aí parava tudo”. “É. Delimitava onde está, pronto”, respondeu Jucá, a respeito das investigações.
**JUCÁ – [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem ‘ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então… Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir.
Lhe pergunto: Quem hoje é o relator da Lava-jato? Marco Aurélio. Ex-advogado do PCC e investigado na própria Lava-jato. Será que o pacto funcionou?
E eis que um pacto nacional foi costurado e apresentado a nação em forma de 'pato amarelo' - quá quá!. Indústria, mídia, a classe política e jurídica, juntas,nesse PACTO NACIONAL. A TV Globo convocava a nação para protestar pela saída de Dilma. Na rua camisetas amarelas da CBF e dancinhas pedindo a saída de Dilma. Nas varandas dos condomínios de luxo, homens e mulheres de BENS, batiam nas panelas.
Em 31 de agosto de 2016, a presidenta Dilma Rousseff foi afastada do cargo. O pacto nacional funcionou. O acordo foi celebrado. Temer assumiu a presidência e desde então tem obtido o apoio do Senado e da Câmara Federal para 'pôr ordem' no País. Veja o que Aécio disse sobre o mandato do Drácula, digo, do Temer:
**"Apoiar esse governo para que faça as reformas que nós faríamos. Estimular este governo para que tome as medidas que nós tomaríamos. Para que enxugue o Estado como nós enxugaríamos. Para que coloque pessoas qualificadas como nós colocaríamos. Ele [Temer] tem que se preocupar em passar para a história como o presidente que teve coragem em, aproveitando um momento que o destino lhe ofereceu, para fazer aquilo que o governo do PT não fez".
Lembro-me das inúmeras conversas que tive com muita gente, gente do meu cotidiano, gente de casa, também com gente que não conhecia, que encontrava nas ruas ou nas filas do mercado, da padaria, nas paradas de ônibus. E quando falava sobre uma possível saída de Dilma e entrada de Temer no governo, diziam que eu fazia terrorismo.
Mas hoje, o chamado pacotes de maldades de Temer e de toda sua corja envolvida nesse pacto, chegou ao limite - será? 
É certo que hoje para os trabalhadores que apoiaram esse processo desde o seu embrião, estão testemunhando uma realidade que mais parece um pesadelo.

Confesso que sempre soube que essa elite não tinha escrúpulos algum para alcançar o poder e oprimir a população. Mesmo assim eu não esperava tanta desgraça em meu país.
E ainda vale considerar que, todas as decisões tomadas até aqui por esse PACTO/ACORDO NACIONAL, ainda não estão afetando diretamente o cotidiano das pessoas. 

Mais um dia, menos outro e iremos sentir na pele o que a mídia apresenta enquanto 'reforma' e medidas que dizem recuperar a economia. Recuperar a economia para quem? Já vi esse discurso do 'milagre econômico' que oprime e excluí os trabalhadores.

Eu sei de uma coisa... haverá reação.
E da mesma forma que subestimamos estes bandidos, hoje eles subestimam o povo brasileiro.

Mas esse suposto estado de inércia não permanecerá por muito tempo.
Por fim recorro a poesia de Chico Buarque:
"...Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro...

...Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar...

...Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa..."

Sexta-feira temos um encontro marcado, nas ruas desse Brasil.

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