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17 de maio de 2012

Uma reflexão sobre a brevidade da vida.


Com o passar do tempo, a gente se dá conta de que a vida passa e passa rápido...
É a idade que vai chegando de repente; 
São as conquistas que testificam que não somos mais crianças sem responsabilidades, nem planos...
Outrora, são os nossos pais antes adultos provedores, agora “idosas crianças” dependentes.
São algumas pessoas muito queridas que marcaram nossas vidas e que hoje passamos anos sem ver.
É a vida, é o tempo, são as lembranças que passam com os momentos tão sutis que nem se deixam perceber.

Assim a gente aprende à lição que o ato de se prender a detalhes, situações, momentos ou lembranças que não nos fazem bem é simplesmente perder tempo, transformando nossas vidas em uma viagem longa, aonde a paisagem vai ficando sem graça, pouco atraente e nada agradável.
Se dar conta de que o tempo passa e passa rápido...
Se dar conta do quanto à vida é breve, é muito mais que perceber a constante possibilidade de se deparar com a morte.

No entanto, acredito que tal percepção nos revelará um novo tempo, nos guiará por um caminho de transformação, modificando não apenas a maneira como enxergamos a existência, mas modificando plenamente nossa maneira de vivermos a vida.

Vamos tentar aqui refletir um pouco a respeito do despertar para a brevidade da vida, antes quero deixar bem claro que a nossa proposta por meio dessa reflexão não é pensar na morte, mas pensar numa maneira de viver melhor os nossos dias. Essa nossa reflexão vai acontecer no partilhar das nossas experiências, experiências essas que nos levaram e continuarão a nos levar por esse caminho de descobertas e transformação interior.

Você já esteve perto ou acompanhou alguém que recebeu um inesperado diagnóstico de câncer? Conheceu ou teve alguém na família vítima fatal em algum acidente de trânsito? Já passou pela experiência de sobreviver a um grave acidente e por meio dessas experiências, foi levado ou levada a refletir sobre as coisas que de fato importam na vida?

Talvez seja você esse alguém que sentiu na pele e viveu esse desafio. Pois bem, ter em mãos um diagnóstico preciso de que você ou alguém muito querido está portador de uma doença como o câncer, é de fato um choque à primeira, segunda, terceira e quinta vista. É a sensação do chão que some dos nossos pés, do mundo que desaba sobre as nossas cabeças... A brevidade da vida se apresenta, bagunçando nossa rotina, modificando nossos planos, roubando nosso sono, mudando nossa vida, nossa forma de ver a vida, nossa forma de viver a vida. Essa mudança tente em nos tornar humanos melhores...
O cronômetro foi acionado, a largada foi dada, nossa corrida contra o tempo está em plena atividade. Disparamos como bala de revólver, obstinados em alcançar o nosso alvo: prolongar nossos dias de vida. A batalha contra uma doença desse porte é de fato árdua e nos toma por completo. A guerra está declarada, estamos na luta pela vida. Tudo o que nos é possível está investido: nosso tempo, nossa força, nossos recursos financeiros, nossa crença e fé, nossa esperança, perseverança, confiança, nossa lágrima, nosso sorriso, nosso amor e afeto. E aquilo que aparentemente não está ao nosso alcance e que antes era impossível, hoje não é tão difícil assim. Recorremos a quem podemos, perdemos alguns medos e constrangimentos. Precisamos unir forças ao redor dessa causa. Movemos o mundo para o alcance desse objetivo.

Noites sem sono, noites onde desabamos diante do esgotamento físico e mental... Tudo, absolutamente tudo se torna secundário, o que importa agora é a vida preservada daquele que está doente. Confesso que por vezes são movimentos quase que insanos, ou poderia dizer, voluntários, automáticos. Na verdade o nosso instinto de sobrevivência entra em ação.

O paciente se submete a exames dolorosos, o que nem de longe pode ser comparado como uma prévia para o tratamento. O tratamento contra o câncer pode parecer algo cruel e paradoxalmente desumano; talvez haja essa sensação pelo simples fato de nos desnudar diante dos outros e principalmente de nós mesmos. A quimioterapia funciona como uma bomba atômica (palavras ditas por pacientes em tratamento), o incomodo físico é de tirar o sono e paciência, há a sensação de explosões internas, o corpo está sendo varrido, o corpo está sendo curado, mas as reações durante o tratamento leva o corpo a parecer mais doente. É a pele que fica avermelhada, descascando, é o corpo que dói, é a mente que se torna inquieta, as emoções que ficam desorganizadas e alteradas, é o cabelo que caí, é o corpo abatido, é o humano conhecendo sua impotência, sua fragilidade, suas limitações, suas dependências, sua beleza e magnitude.

Somos levados (paciente e acompanhante/família) para um casulo, lugar que de fato não escolhemos estar, são horas a fio dedicadas numa quimioterapia, praticamente um dia inteiro com os remédios e outras drogas, as reações são diversas, dependendo de cada organismo, queda da pressão arterial durante a ministração do medicamento, ânsia de vômito, tonturas, reações alérgicas, entre outros. Meu pai sorria, cantava e contava piadas durante o tratamento, a sala onde ele recebia o medicamento era a maior do hospital e sempre lotada, boa parte dos pacientes em tratamento, entravam no “embalo”... Enquanto o medicamento era administrado, uma leveza e alegria contagiavam aquela sala, a força de viver tornava tudo mais leve e esperançoso.

Percebemos que nenhum de nós é super-herói, somos todos iguais, limitados e desejosos de viver a vida que nos pertence. É possível ouvir de alguns pacientes numa condição como essa que simplesmente deveria ter dedicado mais tempo à sua família, ter dito a eles o quanto os amava, ter abraçado e brincado com os netos. Há um despertar para a brevidade da vida e sua implicação, há uma nova perspectiva a cerca da existência, há um abrir de olhos para uma nova realidade.

Perder alguém que amamos é no mínimo doloroso, a saudade nos faz enxergar sempre a possibilidade de ter aquela pessoa presente, possibilidade esta não mais real, ao menos no plano que estamos. Logo reconhecemos que o tempo antes vivido poderia ser aproveitado de outra maneira, mais intensa, mais leve, agradável, feliz e cheia de afeto. Que essa reflexão, oferecida pela vida não nos guie por um caminho de opressão e lamento, mas que a saudade de alguém que se foi, que o susto tomado na estrada, que o diagnóstico de uma doença que ameaça a morte, nos faça despertar do sono existencial e que os nossos olhos da alma deslumbrem o horizonte de possibilidades que a vida de fato é.

Em vez do lamento, viva a gratidão.
No lugar do remorso, viva o amor.
No espaço da culpa, haja a alegria de viver e perdão generoso.
Que os nossos dias se tornem mais iluminados e que a luz da sabedoria, do respeito, da tolerância, da felicidade e do amor, nos conduza por um caminho de paz e realização.


“Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza...” (Por Andreza Oliver...).

Continua...