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26 de janeiro de 2019

Percepção de si

Só basta o tempo fazer algum silêncio
Só basta o tempo passar mais devagar
E logo a primeira imagem que tenho
Me faz lembrar daquele cotidiano

Onde você está que não está aqui?
Onde estamos sem o outro?

Sinto tua falta e dentro dessa tua ausência eu caio em mim
Essa falta que sinto de ti é mais falta de mim

O tempo passa e com ele vai revelando minhas lacunas e meus silêncios
Nisso tudo você é apenas um traço nesse emaranhado
Levo comigo rupturas e descontinuidades que parecem me embalam desde o tempo que me trouxe aqui

Por isso me perco nas rupturas
Me perco nos fins
Me perco nos tempos que findam
Me perco na areia que faz o tempo pausar/passar

Quando você se foi
Dei um jeito de continuar
E enquanto você ia
Eu continuava
Continuava e me despedia de outros tempos

Tenho medos
Tenho sonhos
E busco caminhos seguros
Enquanto procuro por eles
Me sinto pausado, parado
E eis que é apenas meu inconsciente consciente de que preciso respirar para arejar

Preciso me reconectar com meus medos reais e meus sonhos impossíveis/possíveis

Antes disso, escrevia sobre o tempo e me dei conta de que escrevia sobre mim

O tempo não faz pausas
Porque a pausa não tem poder sobre o tempo
O tempo é existência
Quando não há liberdade, há rebelião
Não há quem possa conter a percepção de si

Estou tentando falar de mim
Estou tentando me compreender
Compreender o meu tempo agora
Compreender o que este tempo está fazendo comigo

Estou em silêncio para observar o que estou fazendo dele
Do tempo que conquistei
Do tempo que vivo
Do tempo que me confiaram