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25 de fevereiro de 2013

Abrindo a janela.


O dia amanhecia.
E ela continuava acordada.
Tinha sido mais uma noite difícil, uma noite inteira sem dormir.
Com seus pensamentos, seus medos, dores, lágrimas e arrependimentos.
As persianas da janela do seu quarto a impediam de ver a luz do dia que chegava devagar.
O som da sua dor interior, transformada em pranto, a impedia de ouvir o som do mar.
Mas o amanhecer estava bem ali, anunciando um novo dia.
A noite de angustia era também iluminada por uma intensa lua cheia, brilhando sobre o rio e o mar.
O céu não estava escuro absoluto, ainda com estrelas brilhantes, surgia um novo cenário de cores e transformação, era o nascer do sol.
Onde está a tua angustia, onde se esconde essa tua dor?
No meio da madruga o sol brilhou...
 Ela não excitou, saindo da cama, colocou-se de pé e mesmo quase sem querer. Nem conseguia acreditar naquilo que estava fazendo. Afinal sua dor a impedia de pensar e agir.
Em meio ao seu caos e fracassos, ela se pôs a caminhar.
Lentamente, entre um passo e outro, uma lágrima...
Respirava ofegante. Ninguém estava ali. Era apenas ela. Ela e suas dores. Mas algo acontecia em seu interior...
Ainda de maneira lenta, as persianas foram se abrindo, revelando um novo cenário, ainda que pelos vidros da janela fechada... O amanhecer lhe trazia um novo fôlego, um milagre estava acontecendo dentro do seu interior.
Afinal, há tempos ela não sabia o que era dia, há tempos no seu interior tudo era noite sem estrelas e sem luar.
Ao abrir os vidros da janela, um vento sul intenso e simultaneamente suave parecia lhe abraçar, envolvendo, tomando conta de cada espaço daquele quarto. O vento ao entrar pela janela aberta parecia trazer consigo luz, levando toda dor que havia ali.
Enquanto isso, com os olhos fechados ela respirava fundo e lentamente sua coluna, seu corpo antes envergado colocava-se de pé...
Ainda em lágrimas, apoiou-se sobre a varanda, abriu os olhos e em sua alma um sopro, um novo fôlego... Esperança.
Dali ela avistava o mar. E sua dor estava sendo depositada na areia da praia. Entre uma onda e outra, num piscar e abrir de olhos, tudo era areia e as águas do mar banhavam seus pés...
Num giro de 360°, ela via todo o cenário da sua vida. Ao seu redor a brisa do mar, as palhas dos coqueiros balançavam ao soprar e dançar dos ventos.
Um bem-te-vi lhe dava bom dia. E ela respondia: “Bom dia vida”.
Para alguns, era apenas mais um amanhecer, mais um dia.
Mas para ela hoje era diferente.
Ao abrir os olhos, nem podia acreditar que sempre tudo aquilo esteve ali...
Era dia, era seu dia... Amanhecia ali, pela primeira vez depois de um longo tempo.
Amanhecia ali, era dia na sua alma.


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